Todo mês recebemos a fatura de energia elétrica, olhamos o valor e pagamos. Mas a conta de luz traz muitas informações úteis, que podem ser difíceis de entender. Por isso, hoje vamos explicar como uma conta de luz é organizada e como extrair informações importantes dela.
Um detalhe importante de mencionar antes de começar é que não são todas as faturas que tem o mesmo layout, então se mostrarmos algo e não estiver exatamente no mesmo lugar na sua fatura, pode ainda estar em algum lugar. O importante mesmo é saber o que essas informações significam.
Alguns consumidores, como os do grupo A, ou os que possuem energia solar, têm faturas um pouco mais complexas, mas os princípios são os mesmos.
Quando primeiro olhamos um conta de luz conseguimos facilmente localizar alguns dados essenciais, identificados abaixo:

- Identificação do consumidor e ponto de consumo;
- Um quadro de valores que discrimina os preços a serem pagos;
- O histórico do faturamento dos meses anteriores;
- Leitura do relógio de medição.
Quadro de valores
Vamos dar uma olhada melhor no quadro de valores cobrados, pois é onde as informações mais importantes estão contidas.

Em geral, os itens pagos podem ser divididos em 5:
- energia adquirida;
- transporte de energia;
- encargos setoriais;
- outras taxas, como PIS,COFINS, ICMS e Contribuição para iluminação público;
- outros itens, como a bandeira tarifária, multas, desconto por geração própria de energia, etc.
Além dessas informações, esse quadro precisa ser auto-contido, ou seja, as informações na conta precisam ser suficientes para refazer os cálculos para determinar o valor total a ser pago.
Geração e transporte de energia
Esses são os gastos relacionados ao consumo de energia propriamente dita. A energia é produzida por uma empresa em uma usina. Naturalmente existe um custo para essa produção. A empresa também espera algum lucro. Esse valor é o custo de geração, ou simplesmente o custo da energia. Ele pode aparecer na sua conta com a sigla TE (Tarifa de Energia).
Depois de produzida, a energia ainda precisa chegar à sua casa ou comércio. Para isso, geralmente duas empresas transportam a energia. Uma é a transmissora, que pega a energia da usina e leva para os centros urbanos. Para entender, podemos pensar que os postes que fazem a transmissão são aquelas torres metálicas grandes que vemos em rodovias entre cidades.
A distribuição é o próximo passo, e geralmente é uma outra empresa que faz. Essa empresa pega a energia das linhas de transmissão e transforma essa energia para que seja mais segura para circular em cidades e mais conveniente para o consumo. Podemos imaginar, de forma simplificada, que a distribuição é feita por postes urbanos comuns. São dessas empresas que geralmente contratamos energia, e são deles que recebemos a fatura. Exemplos de empresas distribuidoras são a Copel, Energisa, Enel e a Eletrobras. Esse custo de transporte pode aparecer na conta como TUSD (Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição).
O transporte de energia elétrica é um monopólio natural, assim como a distribuição de gás ou água. Isso porque a competição entre duas empresas não gera eficiência de mercado. Não faz sentido ter dois sistemas de distribuição, um competindo com o outro, levando energia para um mesmo lugar se só um desses sistemas vai ser usado. Mas isso gera um problema, porque um monopólio não autorregula preços, por isso a ANEEL, uma agência nacional que regula todo o setor elétrico, estipula os valores a serem cobrados pelas empresas distribuidoras.
É comum os custos de geração e transporte da energia estarem combinados em apenas um campo, chamado “energia elétrica consumo”, ou algo parecido.

Encargos setoriais
Encargos setoriais são instituídos por leis e caem sobre as distribuidoras, geradoras e transmissoras, mas acabam sendo pagas por consumidores nas contas de luz. São diretamente ligados ao setor elétrico, e pagam subsídios, pesquisas, e a administração desse setor. São estipulados pela ANEEL e podem ser incluídos diretamente no valor da energia.
CDE (Conta de desenvolvimento energético): É uma taxa que vai para um fundo direcionado a benefícios sociais que garantem a universalização da energia, por exemplo a tarifa social e a expansão da rede para regiões rurais. Também pagam outros custos, como o subsídio para o uso de carvão nacional na geração.
PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas): É um programa que subsidia pequenas hidrelétricas, termelétricas a biomassa, usinas eólicas e outras formas de energia limpas e renováveis.
CFURH (Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos) Se trata de uma taxa que usinas hidrelétricas pagam para municípios e estados que são afetados pela mudança do curso do rio ou pela barragem.
ESS (Encargos de serviços do sistema): É pago a usinas termelétricas que são usadas fora da programação. Às vezes ocorre da demanda por energia ser maior do que o previsto, ou acontecer algum problema com as principais geradoras. Nessas situações, a ONS entra em contato com essas usinas, que têm a geração mais flexível, e pede para cobrir a demanda. O contrário também pode ocorrer, onde a demanda é menor que o esperado, e usinas termelétricas precisam diminuir a produção. Por esses serviços, essas usinas são remuneradas.
EER (Encargo de energia de reserva): Parecido com o ESS, mas para o uso de energias reservas, que são usinas contratadas especificamente para suprir demandas inesperadas.
TFSEE (Taxa de fiscalização dos serviços de energia elétrica): Uma taxa que custeia a administração da ANEEL.
P&D (Pesquisa e desenvolvimento): Programa da ANEEL de incentivo à Pesquisa e Desenvolvimento no setor elétrico.
PEE (Programa de eficiência energética): Um programa que busca promover a eficiência energética no Brasil.
Contribuição ao operador nacional do sistema: O operador nacional do sistema (ONS) é o órgão responsável por coordenar e organizar o sistema elétrico brasileiro. Esse encargo custeia sua administração e operação.
São muitos encargos, mas representam um custo menor do que o esperado, juntados equivalem em média a 12,3% da conta. Mas se esses encargos dificilmente aparecem na conta, e não são muito caros, porque conhece-los? Primeiramente, é importante saber o que pagamos e porque pagamos. Além disso, conhecer esses encargos nos dá uma ideia de como funciona o sistema elétrico brasileiro, que é complexo, mas é um pilar da nossa sociedade.
Outras taxas na conta de energia
Essas taxas não são inclusas no valor da energia e são listados separadamente na conta de luz, diferentemente dos encargos setoriais. São impostos federais, municipais ou estaduais e não são ligados diretamente a fundos do setor elétrico.
PIS e COFINS: Talvez você já tenha ouvido falar dessas taxas em outros contextos. O PIS é o programa de integração social e o COFINS a contribuição para o financiamento da seguridade social. Esses tributos são pagos pela concessionária, e são repassados ao consumidor final. Geralmente são discriminados no quadro de valores, ou em um texto abaixo. Variam de mês a mês.

ICMS: Imposto sobre circulação de mercadorias e prestação de serviços, é um imposto estadual. Esse é o maior imposto cobrado na conta de energia e tem sua alíquota expresso ao lado do valor que ele afeta.

Esse valor total e valor unitário já incluem a alíquota.

Aqui achamos o valor que pagamos de ICMS, e o valor sobre o qual o ICMS foi calculado. Nesse exemplo, R$118,31 é o preço que o ICMS é calculado sobre. A alíquota do ICMS é 29% nesse caso 118,31×0,29=34,31, que é o valor do ICMS.
Também temos a contribuição para iluminação pública, que é o valor que pagamos ao município para manter o sistema de iluminação pública.
Agora que você sabe o que compõem a tarifa, temos aqui um gráfico com dados da ANEEL de 2019 que traz o valor arrecadado com cada parte da tarifa. Note que os custos principais são o ICMS e o custo da energia, enquanto os outros impostos e os custos do transporte da energia são menores, mas juntos também são significativos.

Essa é uma conta real, onde estão separados os valores pagos de cada item. Podemos ver uma tendência parecida com a do gráfico acima, mas não são exatamente iguais.

Leitura do relógio de medição
Uma outra informação que a conta nos traz são as leituras do relógio. Para te cobrar na conta de luz, a distribuidora compara o valor do relógio medidor no começo do mês com a leitura do final do mês. Em algum lugar da sua conta, devem apresentar as datas que são feitas as leituras. Para saber quanto gastou no mês, basta subtrair a leitura do final do mês, muitas vezes chamada leitura atual, pela leitura do começo do mês, ou leitura anterior. O consumo médio diário é o consumo mensal dividido pelo número de dias do mês.
Se a conta for muito acima do esperado, é interessante ficar atento às leituras para ver se batem com o valor cobrado.

Exemplo de conta de energia
Vamos analisar aqui uma fatura:

A parte superior da conta, temos a identificação do consumidor, nome, endereço e algumas informações sobre a conta como a data de vencimento e valor da conta.
Logo depois temos as informações sobre a leitura do relógio.

Podemos ver a data da leitura anterior, a data da leitura atual, o valor total faturado, a média do consumo, entre outras informações.
Depois, olhamos para o histórico.

É sempre importante analisar tendências no histórico. Particularmente, esteja atento às colunas de Valor (que é o preço cobrado) e a coluna kWh (que é a energia consumida). Aumentos inesperados podem significar que existe algum problema na sua instalação, ou que um equipamento esteja gastando mais que o esperado. É normal que as contas sobem em preço lentamente, e que aumentem os gastos nos meses frios. Mas mudanças bruscas podem representar algum problema na instalação ou na medição.
Só nos resta dois campos, as informações suplementares, que apresenta nesse caso o valor da energia sem o imposto ICMS, e o quadro de valores.


Aqui podemos ver que o cliente consumiu 79kWh no mês, cada um custando R$0,789 mais ou menos. Note que esse valor inclui o ICMS, o PIS e o COFINS, o valor sem esses impostos é o constatado nas informações suplementares de aproximadamente R$0,517. Esse valor também inclui os custos de transmissão e distribuição, e os encargos setoriais.
O valor que pagamos em cada um desses impostos é de R$18,07 de ICMS. Parece que só temos esse, mas no texto pequeno abaixo do quadro temos algumas informações adicionais, inclusive o valor do PIS de R$0,61 e o COFINS de R$2,78.
Perceba que esse cliente está pagando algumas multas por atraso no pagamento de contas anteriores.
Temos também a contribuição da iluminação pública.
Se somarmos todos esses valores:
62,34 + 3,24 + 4,06 + 8,93 + 5,26 + 0,61 + 2,78 = 83,83
Agora que você sabe ler uma fatura, e o que paga todo mês, e viu um exemplo, você pode ficar atento a sua própria conta e entender quais as mudanças que ocorrem. Se encontrar algo de estranho, entre em contato conosco que faremos uma análise gratuita e tiraremos sua dúvida. Para saber mais, leia nossas outras matérias e nos siga nas redes sociais. Até a próxima.